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segunda-feira, 30 de julho de 2012

FMM - Sines

Na "ressaca" da 14.ª edição do Festival de Músicas do Mundo de Sines até seria de estranhar que eu não publicasse nenhum comentário no meu semi adormecido blog.

Sem querer entrar nas habituais discussões acerca da dita world music, tão recorrentes no meio académico da etnomusicologia e que muita tinta ainda farão correr nos próximos tempos, a verdade é que, ao ver alguns dos concertos não consigo deixar de vir para casa e pensar neste tão estranho conceito... Claro que o ambiente de festa que se vive num concerto ao vivo, verdadeiramente animado como este, com o castelo, a praia e a maresia a criarem um cenário perfeito, fez-me esquecer, por momentos, estas dúvidas e questões que se levantam sobre o que será então a world music. Careceria de alguma investigação e indagação para eu pudesse exprimir aqui em público uma série de ideias acerca desta questão que têm vindo a surgir nestes últimos dias... A verdade é que as várias horas a ouvir guitarras eléctricas a tocar e retocar melodias de "inspiração tradicional" deixaram-me curiosa e com vontade de fazer algumas pesquisas...


Bem, no geral gostei muito do festival: assisti a quase todos os concertos e na generalidade todos tiveram pontos muito positivos; gostei do ambiente animado mas pacífico e sem confusões, apesar da presença exagerada e quase ameaçadora das forças de segurança; os locais dos concertos são fantásticos, apesar da mudança para o pontal, e as condições logísticas bastante satisfatórias para um evento deste tipo. 

Na minha opinião, a repensar: o horário dos concertos do segundo fim-de-semana (18h45, 20h e 21h45). Para aqueles que, como eu, querem assistir a todos os concertos e não podem jantar fora todos os dias, complicaram um pouco a vida; e o som dos concertos que no primeiro fim de semana foi demasiado alto, criou por vezes ruídos incómodos e prejudicou a recepção de algumas actuações.

Das actuações a destacar:
- No primeiro dia, sem dúvida, Narasirato, das Ilhas Salomão. Lá está, sem me questionar da "verdade" da sua música de "inspiração tribal" ou qual a influência da indústria musical neste grupo, foi um concerto onde a alegria dos músicos foi contagiante para o público , um concerto um vi os músicos com verdadeiro prazer de tocar e mostrar a sua música (uma coisa que, nos últimos tempos e infelizmente, não tenho visto muito...).


- No terceiro dia: Oumou Sangaré & Béla Fleck (Mali e EUA). Os dois músicos proporcionaram um concerto fantástico e de muito boa qualidade.

- Ainda no terceiro dia destaco a presença da Imperial Tiger Orchestra & Hamelmal Abate (Suíça e Etiópia). Uma voz excepcional e muito bons músicos em palco.







Neste primeiro fim-de-semana do festival a minha desilusão foi: Otis Taylor Band com duas violinistas que muitas vezes me deixaram confusa com a sua própria confusão; L'enface rouge & Lorfi Bouchnak que por vezes pareciam aborrecidos com aquilo que estavam a tocar e contagiaram alguns espectadores; Clorofila + Los mezcalieros de la sierra com os seus clichés mexicanos, mais que batidos misturados com uma música electrónica muito básica; por fim e ainda neste primeiro fim-de-semana, Shangaan Electro que até percebi o conceito dos bailarinos a abanarem-se eficazmente a ritmo das 189 batidas por minuto, mas pouco mais nos deram que uma hora e tal de música repetida.


Bem, quanto ao segundo fim-de-semana, destaco:
- No dia 26, Fatoumata Diawara (Mali). Fantástica! Um concerto bem concebido, com uma construção performativa eficaz que não deixou o público indiferente. Mais uma vez, alguém que gostava daquilo que estava a tocar e conseguiu transmiti-lo ao público.




- No mesmo dia, os energéticos e contagiantes Staff Benda Bilili (Congo). Muito bom! Mais uma vez, possivelmente mais do que a qualidade musical, foi a energia e a presença em palco que contagiaram. Estes "substitutos" que já haviam estado presentes do FMM apresentaram um concerto que resultou especialmente bem nesta noite de Quinta-feira. O público correspondeu muito bem a esta energia!


- Também gostei do grupo argentino Astellero, mas por vezes parecia que estávamos à espera que entrasse em palco o Astor Piazzola. Músicos muito bons, mas um concerto mal escolhido para início de noite. Gostei também de Dubika Kolektiv e tive muita pena da troca de horário que os fez actuar demasiado cedo. As actuações de Mark Ribot tanto com os portugueses Dead Combo como com Los Cubanos Postizos foi muito boa! No último dia gostei ainda de Tony Allen felizmente abrilhantado por dois saxofonistas portugueses professores na Escola de Artes de Sines. Os portugueses Couple Coffee e Orquestra Todos surpreenderam-me bastante pela positiva.

As desilusões: Uxu Kalhus e a sua concepção mais que vista de misturar todos aqueles clichés da "música tradicional" portuguesa, do mais básico possível, com todos os outros clichés do rock, numa desconstrução "manhosa" que resultou, nada mais, nada menos, do que numa manta de retalhos mal cozidos e com pouco sentido musical. No dia seguinte, os Diabo a Sete, que para mim foram mais uma enjoativa misturada de "música tradicional" do mais básico, visto e revisto.
Um pouco de abuso das guitarras eléctricas nesta edição do festival...
De resto, e apesar do preço que talvez tenha afastado algum público menos abonado financeiramente, o festival foi muito bom... 

Bom ambiente, bom público, bons músicos!



O Rio das Flores

Bem, em tempo de férias e sem paciência para procurar na biblioteca um livro para ocupar as horas de ócio por terras de Sines, decidi pegar num livro que lá por casa andava perdido sem que o verdadeiro dono o lesse e trouxe-o comigo...

Terei de ser sincera e dizer que, apesar da curiosidade que o livro me despertou, o seu autor, que semanalmente vemos comentar os assuntos políticos na televisão, deixava-me um pouco apreensiva. O tom um tanto ou quanto rabugento com que Tavares comenta as desgraças nacionais e internacionais fez com que eu lesse as primeiras páginas deste romance com alguma desconfiança. Sim, é verdade: preconceito. A verdade é que até agora ainda não tinha lido nada escrito por Miguel Sousa Tavares...

A comparação com Sophia de Mello Breyner (escritora que admiro...) pairou sempre no ar, mas a verdade é que este livro me surpreendeu.

Sou fascinada pela história do século XX e o trabalho que investigação que tenho desenvolvido centra-se na  período de ditadura portuguesa e, por essa razão, o trabalho de documentação histórica eficazmente articulado por Tavares com uma "estória" fascinante deixou-me "colada" até à última página que, infelizmente, hoje li...

Bem, em resumo: gostei do estilo de escrita, normalmente fluído, com a excepção de duas ou três descrições demasiado extensas e repetidas; adorei a narrativa romancesca e a sua ligação com os factos históricos deste atribulado século XX.

Mais uma vez, vou ser sincera: para mim, o livro não condiz com a pessoa que vemos na televisão e isso foi uma verdadeira surpresa.